Por quê?



Esse espaço aqui tem duas finalidades:

- Apresentar e divulgar o meu trabalho como ator e iluminador.
- Discutir temas relacionados ao trabalho do ator e à cena, incluindo a iluminação.

Espero que exista alguma pessoa, além de mim e da minha mãe, interessada em ler o que segue abaixo.

inté

Edu




3 de outubro de 2010

Luz e corpo, Intensidade do tônus





Vou tentar analisar este vídeo do Cieslak trabalhando com “elementos plásticos”, mas não todo ele, somente do início até 1 minuto e 36.
Para simplificar a conversa vou me ater primeiramente ao tônus, que mais tarde farei uma comparação com intensidade de luz no vídeo “Ar-na-sa”.
Em tempo: esta é uma leitura pessoal e não irei me justificar durante o texto se é correta ou não. Claro que existem outras formas de pensar sobre o assunto. Faço uma justificativa única agora. Desculpa. Pronto, agora que já me desculpei, posso assumir minha real personalidade autoritária e egocêntrica.
Ao fazer uma observação mais minuciosa, vemos que existem duas dinâmicas no corpo de Cieslak durante o exercício. Chamarei a primeira de tônus primário, que é o foco principal da ação, na maior parte do vídeo é a mão direita. A segunda, tônus secundário, é a existente no restante do corpo, que dialoga e dá suporte para que a primária possa se desenvolver.
Peço então que assista ao vídeo novamente prestando atenção na mão esquerda desta vez. Parece estar o tempo todo “morta”, porém ela está, assim como a coluna, servindo de base. Mantendo um tônus mais ou menos constante e ao mesmo tempo fazendo oposição no espaço permitindo maior tridimensionalidade e foco para a mão direita.
O tônus constante no resto do corpo é importante para que sejam perceptíveis as nuances do tônus primário, caso contrário Cieslak estaria apenas “pulando aleatoriamente” no espaço.
A tridimensionalidade (ufa, que palavra grande) é o que aumenta ou diminui o foco, ou seja, a atenção do espectador é focada somente num elemento quando o restante se distancia dele (do segundo 15 ao 25) e é “ampliada” para o corpo todo no caso contrário (do segundo 30 ao 37). A tridimensionalidade é conseguida pelo “diálogo” entre o tônus primário e secundário.
Nota: estou chamando de tridimensionalidade o fato de determinadas partes do corpo “projetarem” vetores para lados distintos.
Dito isto passemos para o vídeo Ar-na-sa.
Vamos ao invés de analisar, tentar identificar na luz os elementos descritos no corpo do Cieslak.
A palavra tônus aqui deverá ser lida como intensidade, na iluminação a intensidade da luz tem papel igual ao tônus no corpo.
O tônus secundário desta cena pode ser facilmente percebido no piso, notem que a área ocupada pelo cenário é iluminada de forma homogênica, tendo intensidade e cor constantes.
O tônus primário é um pouco mais difícil de perceber, pois não existe um foco de luz claramente destacado do resto, porém quando o ator se desloca pelo espaço percebemos que ele passa por diversos níveis de intensidade e cor (o vídeo não ajuda, mas a cor varia também, acredite). A luz que incide nele tem seu ângulo de origem variado de acordo com a posição em que ele se encontra no cenário. A opção na hora de elaborar a luz deste espetáculo foi de manter um ambiente “mais ou menos” constante, já que o espaço cênico é muito pequeno, porém que pudessem haver diferentes “climas” de acordo com a posição onde a cena ocorre.
O tônus primário, então, é definido principalmente por contraste. Entendendo aqui que contraste não se limita somente à diferença entre claro e escuro, mas entre intensidades de luz distintas e por ângulo de incidência.
Repare no momento em que o ator estende o plástico no cenário, tal qual uma roupa num varal. Repare que a luz vinda de um foco lateral branco, que já estava ali desde o início, remete à luz que “atravessa” uma cortina e ilumina um quarto pela manhã (mesmo que muiiito de longe, rss). Nesse momento o tônus primário desta cena está na região do rosto do ator. No momento seguinte ele pega um “boneco” e traz para frente da cena, sendo iluminado por uma luz mais amarela, como se estivesse saindo de um ambiente para entrar em outro, na seqüência ele assopra uma “luminária” e em seguida pega o roupão no cabide, assumindo a posição em que o roupão estava. Esta seqüência rápida é como os espasmos que percorrem o corpo de Cieslak no início do vídeo, porém o recurso usado aqui para esta mudança rápida de foco não é “piscar” a luz freneticamente junto com o movimento do ator, mas estabelecer locais estratégicos onde exista maior intensidade de luz compondo o “quadro”, assim, conforme o ator se desloca pela cena ele “invade” estes pontos e a percepção do espectador pode acompanhá-lo durante a cena.
Pra terminar indico que assistam ao vídeo logo abaixo (Imóvel), porém com volume alto. Neste caso o tônus primário possui intenso movimento por todo o palco, acompanhando as partes dos corpos das atrizes que aparecem ora aqui, ora ali. O tônus secundário é mais subjetivo neste caso... na minha opinião é um misto entre o escuro total, que envolve a cena, e o trilha sonora. A gente continua essa conversa depois...


inté

2 comentários:

  1. Massa seu blog Du!
    Mas eu num li nada! hahaha
    E agora vou comentar o que eu não li...

    Realmente o vídeo do Anarsa tá ruim, mas depois tive impressão de ter visto até uma luz verde nas pernas dele. Não sei se é defeito ou é real, hehe.
    Mas acho que tem uma diferença entre o Beatles que mexe a mão e a luz dessa peça. No primeiro, ele trabalha de formas diferentes com partes fixas do corpo dele. Na segunda, o corpo do ator não recebe luzes diferentes nas partes, mas ele é cingido pela luz de diferentes espaços independente da parte do corpo.
    Fiquei pensando na possibilidade dessa inversão de papéis. Trabalhar de forma diferente seu corpo de acordo com a posição dele no espaço é possível. Assim como tentar uma iluminação que diferencie partes do corpo do ator. Sei lá, tô viajando. Mas pareceu bem trabalhoso fazer.

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  2. Pensando luz como uma matéria subjetiva, é muito interessante a sua leitura sobre o trabalho do Cieslak. Muitas leituras e muitos olhares são possíveis. Mas traduzir isso em luz pode ser bem interessante.
    Parabéns pelo espaço e a disposição de expor um olhar interessante.
    Continue escrevendo, tens aqui um leitor.

    Abraços
    Fábio Retti

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